Estudiantes x Botafogo: O jogo que simboliza o debate sobre clubes-empresa na Argentina

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O sucesso do Botafogo sob o modelo SAF reacende o debate na Argentina sobre a entrada de investidores estrangeiros nos clubes. O jogo contra o Estudiantes se torna um símbolo dessa discussão, com Juan Sebastián Verón e Javier Milei liderando os argumentos pró-SAF.

Em meio à tensão da terceira rodada da fase de grupos da Conmebol Libertadores, o confronto entre Estudiantes e Botafogo transcende o campo de jogo. A partida se tornou um palco para um debate acirrado na Argentina sobre a adoção do modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), impulsionado pelo sucesso do clube carioca. O título da Libertadores conquistado pelo Botafogo em 2024, sob a gestão de John Textor, serve como um exemplo para aqueles que defendem a entrada de investimento estrangeiro no futebol argentino, incluindo figuras influentes como Juan Sebastián Verón, presidente do Estudiantes, e o próprio presidente da Argentina, Javier Milei. Verón, um entusiasta do modelo equivalente às SAFs na Argentina (SADs – Sociedades Anônimas Desportivas), tem um pré-acordo com o empresário Foster Gillett para um aporte de US$ 120 milhões no Estudiantes. No entanto, o avanço desse acordo é bloqueado pelas regras da AFA (Associação do Futebol Argentino), que atualmente proíbe a participação de investidores estrangeiros. A resistência se deve a uma forte barreira cultural: para muitos argentinos, os clubes de futebol são muito mais que negócios; são instituições de pertencimento, e qualquer mudança estrutural precisa da aprovação de seus milhares de sócios. Javier Milei, por sua vez, é um forte defensor da entrada de capital estrangeiro no futebol argentino. Apesar de ter tentado aprovar um decreto em 2023 para permitir investimentos estrangeiros nos clubes, sua iniciativa foi bloqueada pela AFA. Milei argumenta que o sucesso do Botafogo é uma prova irrefutável dos benefícios do modelo SAF, citando a transformação do clube em pouco tempo, de uma situação financeira delicada e até mesmo com passagem pela Série B, para um gigante da Libertadores. Este cenário coloca o Estudiantes em uma posição delicada. O clube busca recursos para melhorar sua infraestrutura e contratar jogadores, como demonstra a contratação de Cristian Medina, ex-Boca Juniors, cujo alto valor de transferência (15 milhões de euros) foi pago por Gillett. Entretanto, a resistência da AFA e o ceticismo da torcida em relação a investidores estrangeiros criam um clima de incerteza em torno do futuro do modelo de gestão do clube. Fernando De Dios, jornalista argentino, ressalta o desconforto com a ideia de que os investidores buscam lucros a curto prazo, podendo abandonar o clube caso os resultados financeiros não sejam positivos. Outro ponto crucial é a interferência do governo na gestão das entidades esportivas. Milei, ao tentar impor suas medidas, entra em conflito com as regras da FIFA, que proíbe interferência governamental nos assuntos de federações. Essa situação gera um risco de punições à seleção argentina, adicionando ainda mais complexidade ao debate. O jogo Estudiantes x Botafogo, portanto, torna-se um microcosmo desta batalha, refletindo as aspirações e preocupações do futebol argentino em busca de um futuro mais próspero e sustentável.
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