Ferrovias: Uma solução sustentável para o transporte, mas com desafios a serem considerados

O Brasil, um país de dimensões continentais, enfrenta um desafio crucial na busca por soluções de transporte eficientes e sustentáveis. Após décadas de negligência, o investimento em ferrovias está retornando ao centro do debate, impulsionado por programas governamentais como o novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que prevê aportes de até R$ 1,5 trilhão até 2026, com mais R$ 0,5 trilhão programados para os anos seguintes.

Esse renovado interesse em ferrovias se justifica pela sua reconhecida contribuição para a sustentabilidade. Em comparação com o transporte rodoviário, as ferrovias geram menor emissão de gases de efeito estufa, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas. Além disso, o transporte ferroviário é mais eficiente no escoamento da produção e transporte de cargas, otimizando a logística e reduzindo custos.

Projetos como o da Sultrens, que visa conectar Porto Alegre a Gramado, exemplificam a tendência de parcerias público-privadas para o desenvolvimento de ferrovias. A legislação, que autoriza a operação privada por 99 anos, desde que os projetos sejam alinhados à política governamental e autosustentáveis, demonstra uma nova abordagem para o setor.

Desafios e cuidados essenciais

Apesar das vantagens ambientais e econômicas, a implantação de projetos ferroviários exige atenção a importantes desafios. Evandro Eifler Neto, Diretor de Engenharia da Arvut, consultoria especializada em meio ambiente, destaca a necessidade de:

• Gestão dos impactos sociais: Os traçados ferroviários podem exigir desapropriações e afetar comunidades. Um trabalho extensivo de comunicação e diálogo é fundamental para minimizar conflitos e garantir a aceitação social dos projetos.
• Atenção ao conforto acústico: A passagem de trens gera ruídos e vibrações. Soluções como tecnologias mais silenciosas e barreiras acústicas devem ser consideradas, juntamente com um programa de manutenção preventiva para reduzir os impactos sobre as comunidades vizinhas.
• Preservação ambiental: A supressão de vegetação e o impacto sobre a fauna são desafios que demandam planejamento detalhado. Medidas de mitigação, como replantio e criação de corredores ecológicos, são essenciais para minimizar os impactos ambientais.

Neto enfatiza a importância de um planejamento rigoroso e um plano de obra bem estruturado para superar esses desafios. Apesar das dificuldades, ele reforça a importância estratégica do modal ferroviário para o Brasil, destacando seus benefícios para o turismo e a geração de empregos.

Conclusão

O investimento em ferrovias representa um passo importante na direção de um sistema de transporte mais sustentável no Brasil. No entanto, o sucesso desses projetos depende de um planejamento cuidadoso que leve em consideração os aspectos ambientais e sociais, garantindo a minimização dos impactos negativos e a maximização dos benefícios para a sociedade.

A experiência internacional demonstra que projetos bem planejados podem trazer resultados positivos tanto para o meio ambiente quanto para a economia. O Brasil precisa aprender com essas experiências e investir em projetos ferroviários que sejam, de fato, sustentáveis e socialmente responsáveis.